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RELATO: O TESTE RÁPIDO EM CANOAS

Em janeiro de 2017, penso em fazer meu primeiro teste de HIV. Conhecendo algumas estatísticas, sei que, como LGBT e cidadão da Grande Porto Alegre, estou em situação de vulnerabilidade. A prevenção nem sempre aconteceu, para mim, como deveria, mas essa questão não é exclusiva das pessoas LGBT. Indiferente do tipo de relação sexual, qualquer um pode ficar exposto à transmissão de ISTs e, quando isso acontece, todos podem procurar informações de teste, prevenção e cuidados pós-exposição.

 

Na busca por informações na internet sobre locais que realizam o teste rápido no município de Canoas, descubro um local com as siglas SAE/CTA (Serviço de Atendimento Especializado/Centro de Testagem e Aconselhamento) que oferece diagnóstico para HIV, sífilis e hepatites B e C, além de atendimentos para essas ISTs. No local, entro em uma pequena fila para me identificar - que exige documento com foto - e aguardo ser chamado para realizar o teste. O atendimento inicial acontece como uma entrevista. A psicóloga me recebe em sua sala e dispara um punhado de perguntas sobre minha vida sexual e os motivos que me levaram a realizar o teste. Perguntas respondidas, volto para a sala de espera para ser chamado à sala de coleta e testagem. Meu documento fica retido e tenho cerca de 30 minutos para aguardar o resultado.

 

Sou chamado na sala da psicóloga mais uma vez. Olho para a folha que ela segura e leio “não reagente” quatro vezes. Em seguida ela se dirige a mim e diz que o teste deu não reagente para todas as infecções. A profissional reforça os cuidados que preciso ter nas relações sexuais, principalmente a respeito do uso do preservativo.

Passado mais de um ano do meu primeiro teste rápido, vejo a necessidade de realizá-lo outra vez. Felizmente, as informações se mostraram mais presentes no meu cotidiano nesse intervalo grande de tempo. Os próprios aplicativos de encontros casuais se preocupam em informar alguns índices de HIV e alternativas de prevenção.

 

Como na primeira vez, busco na internet um local onde realizar o teste em Canoas. Nos primeiros resultados, surgem as mesmas notícias que pesquisei no ano anterior. São informações publicadas no site oficial da prefeitura de Canoas, nos anos de 2013 e 2014, sobre a oferta da prefeitura aos serviços de teste rápido. Noto, a partir disso, a dificuldade de encontrar dados atualizados sobre o assunto. A partir dessa busca rápida na internet, retorno ao endereço do Serviço de Atendimento Especializado em que estive pela primeira vez, mas, quando chego lá, encontro uma placa informando que o SAE se encontra agora em novo endereço.

O atendimento no novo endereço é um pouco diferente. Na fachada do lugar, uma placa com o nome de Centro de Especialidades. Dessa vez não me deparo com uma pequena fila, mas sim com o local lotado de pessoas aguardando atendimento para diversas áreas. Eu e meus amigos entramos no local às 8h30 da manhã, pegamos uma senha e aguardamos para nos identificarmos.

Canoas, placa que aponta a troca de local para a realização do teste rápido.

Após perguntar na recepção sobre o teste rápido, sou informado que estes testes são realizados apenas a partir das 10h da manhã, mas, mesmo assim, recebo uma senha pra ser atendido posteriormente. O teste rápido, naquele dia, perdeu seu propósito de rapidez.

Retornamos ao Centro de Especialidades às 10h e aguardamos pouco tempo até sermos chamados. O atendimento ocorre como na primeira vez, com a diferença de que fico mais tempo esperando entre o primeiro atendimento com a psicóloga e a hora da coleta e testagem. Feito o teste, é novamente na sala da psicóloga que vejo meu resultado aparecer como não reagente. O atendimento se mantém no mesmo padrão, com a psicóloga reforçando os cuidados com a prevenção. Agradeço o atendimento e vou embora dessa vez com uma sensação de impaciência e descontentamento com a organização do atendimento.

A insatisfação com o último atendimento me faz investigar o que mudou de 2017 para 2018 no SAE de Canoas, começando com o local de atendimento. Começo vasculhando o site da prefeitura e encontro poucas notícias recentes sobre prevenção de ISTs. Nenhuma com o endereço do local onde o teste é realizado atualmente. No site do Observatório de HIV/Aids do Rio Grande do Sul, descubro uma lista de lugares nos quais o teste pode ser realizado em cidades do Rio Grande do Sul, e encontro o SAE de Canoas com o novo endereço (do Centro de Especialidades), porém sem número de telefone.

Com certa dificuldade na busca, consigo um número de telefone móvel para entrar em contato. O recepcionista que me atende responde que o Centro atua das 7h às 20h, mas o teste rápido funciona das 8h às 19h (ainda que eu tenha sido atendido a partir das 10h), pois caso o resultado dê positivo para alguma IST existem alguns trâmites a serem realizados pelos profissionais.

Por fim, decido entrar em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Canoas para saber o motivo da mudança do local do SAE, já que no antigo endereço existia um atendimento mais efetivo. A prefeitura responde que o SAE mudou de local em dezembro de 2017, em função da infraestrutura comprometida das antigas instalações (alagamentos, risco de desabamento, rede elétrica comprometida) e também pelo espaço físico, especialmente por conta do número reduzido de salas e consultórios do local anterior.


Descubro que, além do SAE, todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município realizam o teste rápido. Segundo a prefeitura, contabilizando todos os atendimentos dessas unidades, temos uma média de 26 testes rápidos realizados por dia em Canoas. Além do teste rápido, o Centro de Especialidades atende outras demandas que surgem a partir do diagnóstico das ISTs. E entendo, por fim, a partir desta experiência totalmente pessoal, que existe uma dificuldade grande no que diz respeito à informação e organização para o tratamento e prevenção de HIV no município.

Relato escrito pelo estudante de jornalismo e integrante da equipe de reportagem João Henrique Mattos.

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