Conheça a atuação da ONG Somos
A Somos é uma Organização Não Governamental de Porto Alegre que atua desde 2001 com ações voltadas para os direitos humanos, com foco na cultura LGBT. A ONG é vinculada ao Fórum ONG Aids RS e atende o público pelo e-mail somos@somos.org.br. É possível ainda agendar uma visita até a sede da organização, localizada no sexto andar da Galeria Malcon, na Rua dos Andradas.
Claudia Penalvo é uma dos cinco integrantes do grupo que conta hoje apenas com um financiamento e falou sobre algumas questões que cercam a endemia de HIV/Aids no município de Porto Alegre.
Como vocês enxergam as diferenças entre as responsabilidades das ONGs, do poder público - em termos de desenvolvimento de políticas públicas - e do serviço de saúde? Como esses três âmbitos se complementam?
Têm coisas que o Estado nunca conseguirá fazer e, aí, e só aí, que as ONG entram para fazer. Porém, as políticas públicas em saúde e educação precisam ser construídas em conjunto, mas quem realiza é o Estado. Um exemplo é a testagem para o HIV. Garantir a oferta do exame em si é função do Estado, a realização dele é função do serviço de saúde. A ONG só pode fazer ações para estimular as pessoas a se testarem.
No ano passado, a Somos chegou a propor um curso sobre a história da epidemia de HIV/Aids no Brasil. Qual era a proposta do curso exatamente? Como vocês iam abordar esse tema?
Sim, disponibilizamos, mas não ocorreu porque apenas uma pessoa se inscreveu. Pensamos em trazer à luz a história da epidemia para que as pessoas possam entender o presente, porque muitas pessoas não viveram nada antes do advento das medicações, por exemplo.
O curso teve que ser adiado porque não conseguiu inscrições suficientes. Tu acredita que isso seja um reflexo de como a sociedade está lidando com essa questão de uma maneira mais ampla?
Talvez seja isso. Mas nós também não divulgamos como deveríamos. Poderíamos ter feito mais.
Quando se fala em prevenção combinada, é comum citar a redução de danos. Você poderia explicar como os movimentos sociais atuam com a redução de danos voltada para o HIV/Aids?
Atualmente os movimentos sociais não fazem mais nada de ações de prevenção porque não têm mais financiamento. E as pessoas precisam comer, pagar contas, viver. O que se faz, em geral, é tapar os furos existentes e isso acontece muito no apoio à pessoas que vivem com HIV/Aids. A redução de danos já foi um marco de ação em prevenção na cidade de Porto Alegre.
Como a Somos trabalha, no dia a dia, com o tema HIV/Aids?
Depende. Podemos trabalhar em projetos específicos, quando os temos; nas representações políticas, como participações em conselhos de direitos ou outras que se apresentam. Mas sempre na perspectiva dos direitos humanos que entende que as pessoas são sujeitos de direitos em todos os níveis e podem escolher o que melhor se adequar as suas particularidades.
Qual é o papel das ONGs, na tua visão, no enfrentamento à incidência da infecção em Porto Alegre?
As ONG e demais movimentos sociais, no que tange aos diversos níveis de governo, precisam ter uma postura crítica, de enfrentamento, sempre que as ações violarem direitos e, de apoio, sempre que as ações promoverem direitos. Porém, no geral, é importante estar sempre estudando e repensando as práticas para não se "perder" e acabar fazendo o trabalho do Estado.
Nos últimos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde não há dados concretos sobre a incidência nas populações-chave. Essa lacuna influencia no trabalho de vocês?
Não. Nosso foco de atuação são os jovens, independente de orientação sexual e identidade de gênero, e tudo o que estiver em seu entorno nos interessa: escola, profissionais de saúde, família, amigos, social.
Claudia Penalvo. Foto: Divulgação do Cine Gênero & Sexualidade da UFSC.